É importante entender que Tulpa não é um servidor que saiu do controle dos seu(s) criador(es), nem que se tornou extremamente forte, Tulpa é algo completamente diferente.
Tulpa é um conceito criado através do budismo tibetano. É uma “forma-pensamento” que se refere a qualquer entidade criada exclusivamente pelo ato de um humano, ou grupo de humanos, através da visualização, concentração e meditação.
Ao contrário de um servidor, a base de criação de uma Tulpa é unicamente através de práticas meditativas intensas. E quando falo “intensas” falo da meditação tibetana onde o praticante pode chegar a ficar horas em gnose sem perder o foco e por aí vai. Ou seja, criar uma Tulpa não é algo para um iniciante muito menos para quem tem conhecimentos superficiais sobre o assunto.
Após estas práticas intensas e uma vez que a Tulpa já está dotada de vitalidade suficiente para ser capaz de desempenhar o papel de um ser real, ela tende a se libertar do controle de seus criadores. Isso, de acordo com os ocultistas tibetanos, acontece quase que mecanicamente, assim como uma criança que tem o seu corpo completado e capaz de viver de forma independente, deixa o ventre de sua mãe. Esta entidade passa a ser palpável e tangível para seu criador, em outras palavras, pode se materializar no plano físico e dependendo da força que adquire passa a ser visível para outras pessoas também.
É válido lembrar que às vezes a Tulpa se torna um filho rebelde e passa a fazer suas próprias escolhas que podem acabar contrariando os intentos de seu criador. Diferente do servidor, uma Tulpa não possui contrato ou qualquer outro método de controle e subjugação, deste modo ela se torna um ser livre e independente em suas escolhas e atitudes ao ponto de não poder ser sequer absorvida de volta para a mente de quem a criou. Existem ainda casos mais graves onde os criadores se envolvem em lutas para destruir suas Tulpas onde ficaram gravemente ferido ou mesmo mortos por elas.
Mas por que as Tulpas seriam capazes de ferir ou até mesmo matar seus criadores? É simples, coloque-se no lugar da nova criatura. Você acabou de tomar consciência deste plano, de seus potenciais, acabou de despertar, percebeu-se independente e de repente a pessoa que te criou resolve te destruir por medo da sua força. Você tentaria se defender, lutaria pela sua vida, certo? E no mínimo ficaria com muita raiva. O mesmo acontece com estas entidades, são criaturas com grande poder, grande consciência e sem qualquer limitação moral.
Deixo aqui uma experiência relatada no livro Magic and Mystery in Tibet (1965) Alexandra David-Neel onde o praticante cria uma Tulpa com a forma de um monge:
"... Eu escolhi para o meu experimento um personagem muito insignificante: um monge, baixo e gordo, de um tipo inocente e alegre. Eu me fechei em tsams e comecei a realizar a concentração prescrita de pensamento e outros ritos. Depois de alguns meses, o fantasma Monge foi formado. Sua forma cresceu gradualmente fixa e realista. Ele se tornou uma espécie de convidado, morando no meu apartamento. Então eu quebrei meu isolamento e comecei a fazer uma turnê com meus servos e tendas.
O monge incluiu-se na festa. Embora eu vivesse a céu aberto, andando a cavalo por quilômetros a cada dia, a ilusão persistia. Eu vi a gorda Tulpa; de vez em quando não era necessário que eu pensasse nele para fazê-lo aparecer. O fantasma realizou várias ações do tipo que são naturais para os viajantes e que eu não comandei. Por exemplo, ele andou, parou, olhou em volta dele. A ilusão era principalmente visual, mas às vezes eu sentia como se uma túnica estivesse esfregando levemente contra mim, e uma vez uma mão parecia tocar meu ombro.
As características que eu imaginara, ao construir meu fantasma, passaram gradualmente por uma mudança. O sujeito gordo e bochechudo ficou mais magro, seu rosto assumiu um olhar vagamente zombeteiro, astuto e maligno. Ele se tornou mais problemático e ousado. Em resumo, ele escapou do meu controle. Certa vez, os pastores que me trouxeram um presente de manteiga viram o Tulpa em minha tenda.
Deveria deixar o fenômeno seguir seu curso, mas a presença daquele companheiro indesejado começou a provar meus nervos; transformou-se num "pesadelo do dia". Além disso, eu estava começando a planejar minha jornada para Lhasa e precisava de um cérebro quieto desprovido de outras preocupações, então decidi dissolver o fantasma. Eu consegui, mas só depois de seis meses de luta dura. Minha criatura mental era tenaz da vida. Não há nada de estranho no fato de eu ter criado minha própria alucinação. O ponto interessante é que nesses casos de materialização, outros vêem as formas-pensamento que foram criadas ".
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